Prostituição na adolescência

26-05-2010 17:26

Desinteresse pela escola, vestuário mais audaz e adulto, mudanças nas relações interpessoais, linguagem em que a sexualidade é banalizada ou banida. Sinais que podem indicar que nem tudo está bem. Escola e família devem estar atentas.

Adolescência significa época de transição. Mudanças e descobertas. Curiosidade pelo sexo oposto. Um período complexo que importa acompanhar de perto. A relação com o próprio corpo ganha importância. A prostituição não pertence exclusivamente ao mundo dos adultos. É preciso descodificar sinais, entender comportamentos. O assunto não é abordado nos manuais escolares. Pais, professores, familiares e técnicos de saúde devem estar de olhos bem abertos.

"A prostituição na adolescência pode aparecer nos meios socialmente desfavorecidos como uma forma de alterar um registo deficitário na estrutura familiar, mas é acompanhada de vergonha, humilhação e estruturação emocional e psicológica que permitam lidar com uma realidade agressiva e violenta. Por vezes, repetem-se padrões familiares, numa reprodução fatal de quem não consegue romper ciclos socialmente impostos sem rupturas ou saídas pois as oportunidades não existem." Catarina Agante, psicóloga do Serviço de Psicologia e Orientação do Agrupamento de Escolas de Miragaia, aborda a prostituição na adolescência de diversos ângulos.

"Numa outra dimensão, temos uma prostituição que se associa a um estilo de vida onde a promiscuidade sexual se associa a uma transição para as relações interpessoais e a autonomia de vida acaba por se entrecruzar com relações das quais provêm bens materiais ou financeiros que socialmente não têm qualquer conotação pejorativa", refere. Modelos de vida que, sublinha, "estão confinados a níveis socialmente mais favorecidos" e em que "não existe a conotação da prostituição associada à prática do sexo em troca de uma recompensa". Ou seja, o não imediatismo da recompensa não vincula o acto.

Há sinais relevantes: absentismo escolar, vestuário mais audaz e adulto, maior poder económico, linguagem em que a sexualidade é banalizada ou totalmente banida. "Como se duas adolescentes passassem a existir", especifica a psicóloga. Na sua opinião, a prostituição na adolescência não é um problema educacional. "Mas os modelos parentais se são importantes na construção da identidade, também o são para a normalização ou não das condutas desviantes", observa. Todos têm de estar de olhos bem abertos. "A escola tem de estar atenta, a família tem de estar atenta, a saúde tem de estar atenta porque são diversas as dimensões que podem dar suporte a esta transição de vida."

Catarina Agante defende informação acompanhada. "A informação sem acção pedagógica apenas leva a estados de confusão que, muitas vezes, conduzem ao mau uso da informação. Os programas de educação sexual são uma realidade que se percepciona como essencial para os adolescentes, no entanto penso que tem de ser uma intervenção dimensionada em registos linguísticos muito ponderados às diversas faixas etárias e realidades culturais." "A intervenção está sempre associada à criação de formas alternativas de suporte às situações vivenciadas, procurando encontrar uma nova linguagem para a sexualidade que foi banalizada no sexo", reforça.

Adolescentes nesta situação requerem um bom suporte, já que o risco de absentismo, abandono escolar, reprovações, é muito grande. E os professores podem ter um papel determinante, uma vez que os primeiros sinais podem ser detectados dentro da sala de aula. "No entanto, é sempre uma realidade difícil de absorver e difícil de compreender, sendo importante que os professores tenham uma linguagem mais próxima dos adolescentes e das suas actuais solicitações e desafios." Catarina Agante não esquece as ideias feitas. "Considero ainda importante que naqueles níveis sociais mais favorecidos não se imponha o pré-conceito de que só acontece nos níveis sociais deficitários. O que acontece é que terá de ser transferida a importância do respeito do corpo, da intimidade, da sexualidade e do facilitismo e promiscuidade como comportamentos de grande risco em termos de saúde e em termos da identidade e construção da personalidade."

A escola terá sempre um papel de peso. "Cada vez mais somos o contexto de vida, construção, desafio, glória e fracasso dos nossos jovens e, por isso, teremos de ter linguagens mais funcionais e próximas deles. E a linguagem da sexualidade é uma das dimensões de saber crescer, crescer no respeito por quem sou", conclui Catarina Agante.

 

Fonte: Educare