A psicologia do desporto ajuda a fazer a diferença

17-05-2010 16:47

Professor universitário e investigador científico Paulo Malico Sousa é, desde Setembro, o psicólogo da equipa sénior de hóquei em patins do Benfica.

O vilafranquense de 39 anos – que tem um currículo académico impressionante – garante que a psicologia do desporto “ajuda a fazer a diferença”, mas lamenta que em Portugal esse reconhecimento tarde em chegar, ao contrário do que já acontece lá fora. Considera “sério, realista e meritório”, o trabalho da direcção da União Desportiva Vilafranquense, o clube do seu coração.

Como surgiu o convite do Benfica?

O professor Luís Sénica – treinador da equipa sénior de hóquei em patins do Benfica – saiu da selecção e entendeu que deveria ter a trabalhar com ele um psicólogo. Foram apresentadas várias propostas e a minha foi aceite. Pediram-me para fazer o diagnóstico da situação individual e colectiva do grupo e, se as coisas corressem bem havia a possibilidade de fazer um contrato e de dar continuidade a esse trabalho inicial. Senti-me bem, o clube e a equipa técnica gostaram da minha prestação e assinei por um ano com o Benfica. Desde o início da época que faço parte da estrutura técnica do hóquei sénior do Benfica juntamente com o professor Luís Sénica e o professor Nuno Ferrão que é o treinador adjunto.

Contratar psicólogos para as equipas técnicas é uma coisa recente em Portugal…

Não tem muitos anos. As intervenções que têm acontecido ao nível da psicologia em alta competição no nosso país têm sido esporádicas e com pouca continuidade. Excepto a intervenção do colega Pedro Almeida, que esteve no Benfica com o Jesualdo Ferreira e o Toni e que tem um trabalho com mais de 10 anos. Ao contrário do que acontece noutros países onde já há uma larga tradição na intervenção psicológica no alto rendimento. Na América os psicólogos fazem parte das equipas técnicas em modalidades como o basebol, basquetebol ou hóquei. Desde a época 2001/2002, altura em que o Real Madrid criou um gabinete de psicologia, que tem havido uma tendência crescente em toda a Europa, em particular na Espanha, onde muitos clubes seguiram o exemplo, de se trabalhar de uma forma efectiva nessa área.

Acha que só agora estamos a dar os primeiros passos?

Sim. Com dificuldade e resistência por parte de alguns treinadores menos informados. Depois, a conjuntura económica não potencia, neste momento, a entrada de mais um elemento para uma equipa técnica. O processo é lento mas consistente no sentido de se integrar alguém especialista na área da psicologia para ajudar no treino mental dos atletas, que é uma das quatro vertentes fundamentais no alto rendimento. O treino psicológico é tão importante quanto o treino físico, técnico e táctico. Estas quatro dimensões estão de mãos dadas e quando as primeiras intervenções começarem a dar resultado, acredito que alguns treinadores menos sensibilizados para esta questão, vão perceber a importância do psicólogo na melhoria do rendimento dos atletas. Normalmente são os treinadores mais bem informados, aqueles que têm formação académica ao nível superior, que mais rapidamente têm essa percepção e recorrem aos serviços de um especialista em psicologia do desporto para os ajudar nessa área.